Introversão pode estar relacionada com dificuldade de reconhecer rostos

Introvertidos e tímidos não são a mesma coisa – ainda que ambos possam ser encontrados em casa com mais frequência que o normal.

Um tímido fica ansioso com interações sociais. O medo de ser julgado ou de fazer algo errado, principalmente perto de pessoas desconhecidas, faz com que ele fique quieto e interaja o mínimo possível. Já uma pessoa introvertida é feliz sozinha. Aprecia estar com ela mesma, com seus livros e com as poucas pessoas que confia. Segundo o teste de personalidade Myers-Briggs que se baseia nas teorias do psiquiatra Carl Jung, “Os introvertidos obtêm energia de ideias, lembranças e coisas do seu mundo interior mais que do mundo exterior”.

Ou seja: tanto o tímido quando o introvertido podem miar uma festa. Mas enquanto o primeiro faz isso por medo de interações sociais, o segundo faz por preferir relaxar sozinho. A questão é: se o receio gera uma pessoa tímida, o que gera uma introvertida? A pesquisadora Karen Lander, professora de Psicologia Experimental da Universidade de Manchester, tem uma resposta para isso, explicada em um artigo no site The Conversation.

O trabalho da pesquisadora busca paralelos entre extroversão e introversão e a capacidade de reconhecimento facial. Sabe-se que um único ser humano é capaz de armazenar uma biblioteca de no máximo 5 mil rostos ao longo de sua vida, mas nem todos chegam a esse ápice – alguns são melhores que outros.

Os chamados “super-reconhecedores” podem identificar com precisão os rostos, mesmo quando os viram apenas brevemente. No outro extremo, pessoas que possuem “prosopagnosia do desenvolvimento” tem dificuldades congênitas para o reconhecimento de faces, e sofrem por não reconhecerem pessoas em muitas situações cotidianas. A grande maioria da população não é nem um, nem outro – fica no meio desse espectro.

Como isso se relaciona com introversão? Bem, via de regra, pessoas extrovertidas lidam melhor com interações sociais e convivem mais com diversas pessoas que as introvertidas. Portanto, supõe-se que extrovertidos possam ser mais hábeis em reconhecer rostos diferentes.

Para testar essa hipótese, a equipe de Lander analisou 100 voluntários com vários níveis de extroversão. Os voluntários receberam rostos famosos e foram convidados a identificá-los, dizendo seu nome ou alguma outra informação pertinente – como “a amiga de cabelo cacheado do Harry Potter“.

Os voluntários também foram convidados a dizer se dois rostos desconhecidos pertenciam à mesma pessoa ou a pessoas diferentes – uma tarefa denominada correspondência de rostos. Os resultados foram claros: quando mais extrovertido, maior a tendência a acertar.

Segundo os pesquisadores, o contrário também pode ser válido: a incapacidade de uma pessoa para aprender e reconhecer rostos pode levá-la a se tornar mais introvertida, evitando situações sociais embaraçosas em que precisaria dessas habilidades. Só tem um problema aí: explicar a introversão a partir do medo é equipará-la à timidez, e elas são coisas reconhecidamente diferentes, como explicado no começo do texto.

Outra questão é que os cientistas confessam não saber o que originou o que: se pessoas piores na identificação de rostos se tornaram introvertidas ou se pessoas introvertidas conhecem pouca gente e, graças a isso, acabam não desenvolvendo boas habilidades para reconhecer rostos. O mesmo vale para o outro espectro: pode ser que a extroversão cause reconhecimento facial superior, ou que as pessoas que são melhores na identificação de rostos se tornem mais extrovertidas como resultado.

No próximo trabalho da equipe, eles analisarão o impacto de fatores individuais mais amplos, como altruísmo e otimismo, no reconhecimento facial. Talvez, com isso, consigamos mais respostas sobre a introversão – e quem começou esse ciclo de ovo e galinha.

*Fonte: Superinteressante

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